A FORMAÇÃO DO PROFESSOR NA VISÃO DE PAULO FREIRE
Neiva Menezes Pereira Mota1
1 Mestranda em Educação pela Anne Sulivan University. Pedagoga pela Universidade Regional do Cariri – URCA. Bacharel em Serviço Social pela Faculdade Leão Sampaio – FALS. Pós Graduada em Gestão e Supervisão Escolar pela Universidade Regional do Cariri – URCA.
E-mail: neivafenelon@bol.com.br.
RESUMO
Neste trabalho o objetivo é descrever sobre a formação do professor na visão do grande educador Paulo Freire, tendo em vista seu legado destacar as funções do professor e a importância na qualidade de sua formação. Para tanto se utilizou de algumas de suas obras Pedagogia do oprimido; Ação cultural para a liberdade e outros escritos; Professora sim, tia não: cartas a quem ousa ensinar; Extensão ou comunicação? A educação na cidade; Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa e Educação como prática da liberdade, além de diversos outros acervos que demonstram a preocupação Freiriano com relação a formação do professor e sua prática pedagógica no âmbito da sala de aula. São conceitos que todo educador deve carregar na sua bagagem e, consequentemente, transmitir aos seus alunos, buscando assim, demonstrar que sua formação profissional, realmente se encontra embasada na responsabilidade e compromisso para com a educação de todos.
Palavras chave: Formação. Professor. Paulo Freire.
ABSTRACT
This paper aims to describe about teacher education in view of the great educator Paulo Freire, given its legacy highlight the teacher functions and the importance in the quality of their education. For this he used some of his works Pedagogy of the Oppressed; Cultural action for freedom and other writings; Professor yes, aunt not: letters to those who dare teach; Extension or communication? Education in the city; Pedagogy of autonomy: knowledge necessary for educational practice and Education as the Practice of Freedom and several other collections that demonstrate the Freirian concern about teacher education and their teaching within the classroom. Are concepts that every educator should carry in your luggage and thus pass on to their students, thus seeking to demonstrate that their training really is grounded in responsibility and commitment to the education of all.
Keywords: Training. Teacher. Paulo Freire.
1 INTRODUÇÃO
A formação do profissional da educação, sempre esteve presente nas preocupações de Paulo Freire e atualmente, sabe-se que as exigências do mercado de trabalho sugerem que os profissionais se qualifiquem continuamente, desenvolvam estratégias de reflexão na e sobre a prática pedagógica.
Assim sendo este trabalho tem como objetivo descrever sobre a formação do professor na visão de Paulo Freire, deste modo, trata-se de uma pesquisa bibliográfica, embasada nas obras do autor supracitado. Onde o mesmo se preocupa com a postura de aprendiz da profissão educacional, por ser está uma atitude voltada para o desenvolvimento profissional no campo pedagógico, que buscam adquirir novas metodologias de aprendizagem autônoma.
Com base na visão de Paulo Freire, pode-se dizer que os cursos de formação de professores favorecem a realização de atividades desafiadoras, promovendo a desconstrução de saberes tradicionais e a construção de novos saberes, ao mesmo tempo em que incentiva a produção acadêmica e facilita a aquisição e desenvolvimento de novas práticas do ensino-aprendizagem.
A sociedade contemporânea, conhecida como “sociedade da informação” apresenta novos desafios para o exercício da docência. Isso implica dizer que o professor precisa assumir uma postura de pesquisador reflexivo e desenvolver habilidades para inovar, questionar e saber articular os conhecimentos que transmite com as necessidades dos alunos e o meio em que estão inseridos. Para não ser levado pelo rolo compressor do mercado que faz da educação um negócio lucrativo e impõe novos tecnicismos, a questão principal é que este professor adquira a consciência do papel que exerce em sala de aula e qual a sua função ética no exercício de suas atividades.
Com base nesse dispositivo entende-se que na visão de Paulo Freire não basta o certificado de graduação, exige-se uma busca constante de aperfeiçoamento da prática pedagógica, encontros para discussão de problemas do cotidiano de sala de aula e elaboração de estratégias voltadas para solução das dificuldades que o professor enfrenta no seu dia a dia.
2 FORMAÇÃO DO PROFESSOR NA VISÃO DE PAULO FREIRE
A reflexão sobre o exercício da profissão docente faz parte da investigação, sobre o que significa ser professor, bem como sobre os profissionais de diversas áreas que por questões várias decidem exercer a docência em busca da sua valorização, através de cursos de profissionalização que visam considerar diversos aspectos de um bom professor.
Para tanto e de acordo com o pensamento de Paulo Freire (2006) é preciso desmistificar a ideia de que o professor exerce uma missão de “tio” ou “amigo”, uma figura de “bom pastor”, uma vez que se trata de um profissional da educação que precisa se qualificar de forma eficaz para o exercício de suas atividades. São estigmas difíceis de serem eliminados por se tratar de conceitos arraigados e trazidos pelos professores atuais, devido às marcas profundas de suas experiências enquanto discentes.
Os referidos conceitos são tendências automáticas que se carrega inconscientemente, e que terminam se refletindo no fazer pedagógico. Há também aqueles exemplos de professores carrascos, o que é igualmente nocivo, em que se copia, de forma quase automática, ao fazer “terrorismos” com os alunos em sala de aula. É necessário que se pondere essas questões através da quebra de paradigmas e reconstrução do exercício e postura do atual profissional docente.
É preciso eliminar a ideia de que o professor é apenas mero transmissor de informação, executor de tarefas com pouca ou nenhuma participação no processo educacional. É necessário conscientizá-lo de sua responsabilidade além do cargo que ocupa, visto também como um agente de transformação;
Acredita-se que a pessoa só avanço e tem sucesso na sua profissão quando se está preparado e capacitado para realizar suas funções com segurança naquilo que se determina a realizar e, no sistema educacional não poderia ser diferente, pois é como enfatiza Freire (2007, p.44) que a “educação [...], seja uma força de mudança e de libertação”, com especialidade para aqueles que desenvolvem suas habilidades em sala de aulas, no caso o professor, que tem na sua responsabilidade o desenvolvimento da aprendizagem de diversos ser humanos.
Sabe-se que Paulo Freire, sempre se preocupou com a prática de ensino em sala de aula e, consequentemente, com a formação do professor, essa apreensão desse grande educador, é apontada em suas diversas literaturas e lendo a “Pedagogia do Oprimido”, aonde se observa duas práticas de ensino, uma que oprime, a qual ele denomina de “bancária”, e a outra que liberta, onde se pode discorrer, ou seja, a “dialógica”, nessa, Freire (2005, p. 79) assegura que:
[...] o educador já não é o que apenas educa, mas o que , enquanto educa, é educado, em diálogo com o educando que, ao ser educado, também educa. Ambos, assim, se tornam sujeitos do processo em que crescem juntos e em que os ‘argumentos de autoridade’ já não valem. Em que, para ser-se, funcionalmente, autoridade, se necessita de estar sendo com as liberdades e não contra elas.
Assim, pode-se dizer que os professores precisão de uma formação na qual eles possam entender que há a necessidade de uma atuação reflexiva e que as ações e as reflexões sejam inseparáveis na sua prática de ensino que deve ser exercida com responsabilidade e compromisso, buscando sempre novos conhecimentos, por meio do ensino superior, para melhorar seus desempenhos fundamentados em confiabilidade e habilidades. Já que, na visão de Paulo Freire, o ser humano necessita ser valorizado com, especialidade, o professor e, consequentemente, o aluno.
Sabe-se que a formação do professor é constituída e regulamentada na Lei de Diretrizes e Bases - LDB, sob o número 9394/96, na qual o artigo 67, desse documento especifica que:
Art. 67 - os sistemas de ensino promoverão a valorização dos profissionais de educação, assegurando-lhes: [...] aperfeiçoamento profissional continuado, inclusive com licenciamento periódico para esse fim; [...] período reservado a estudos, planejamento e avaliação, incluído na carga de trabalho.
Ainda de acordo com a LDB, “os professores devem ser formados em nível superior com habilitação por área do conhecimento” (BRASIL, 1996, p.20). Assim, implicar dizer que a graduação deve ser de qualidade, na qual o educador adquira os conhecimentos necessários para o cumprimento de suas funções. Pois é como na obra “Professora sim, tia não: cartas a quem ousa ensinar” que Freire (2002, p.53) afirma “[...]. Nenhuma nação se afirma fora dessa louca paixão pelo conhecimento, sem que se aventure, plena de emoção, na reinvenção constante de si mesma, sem que se arrisque criadoramente [...]”.
Os legados deixados por Paulo Freire permitem aos professores uma busca constante para ampliarem seus conhecimentos, bem como assumirem práticas de ensino e atitudes compreensivas ao transmitir para seus alunos o que aprendeu na sua formação. Tendo em vista, o ensino ser um processo conectado a aprendizagem.
As ideias do autor supracitado, praticamente tornou-se o alicerce na formação de professores, seus conceitos mostram como o educador deve desempenhar com prazer sua prática de ensino, além de auxiliar na reflexão quanto ao método inovador que deve ser utilizado na sua rotina em sala de aula, buscando assim o crescimento intelectual de ambos, professor e aluno.
Entende-se que as opiniões teórico-metodológicas Freiriano, têm contribuído para que os professores no decorrer de sua formação sejam engajados a descobrir maneiras de colocar em prática os conhecimentos adquiridos e saibam conduzir aos seus alunos, para que estes possam sobressair perante a sociedade na qual estão inseridos. Pois é como afirma Freire (2002, p.108):
[...] É preciso que saibamos que, sem certas qualidades ou virtudes como amorosidade, respeito aos outros, tolerância, humildade, gosto pela alegria, gosto pela vida, abertura ao novo, disponibilidade à mudança, persistência na luta, recusa aos fatalismos, identificação com a esperança, abertura à justiça, não é possível a prática pedagógica progressista, que não se faz apenas com ciência e técnica.
Porque, ensinar não é só transmitir informações, mas saber gerar meios para que o aluno possa aprender a escrever, ler e ser conscientes de sua função perante a sociedade, ou seja, ensinar é forma cidadãos conscientes de seus direitos e deveres. Para tanto, é essencial que o aluno seja estimulado com uma prática de ensino prazerosa para ser bem sucedido na ação contínuo de aprendizagem.
Apesar dos acervos teóricos de Paulo Freire, compete ao professor uma atuação diária, direcionada para a relação de todos no âmbito da sala de aula. O educador, precisa, além disso, procurar trabalhar com a diversidade de dificuldades, buscando compreender e valorizar cada raciocínio de seus alunos, possibilitando diversas formas de entendimento. Pois, sabe-se que todos os alunos tem capacidade de aprender, desde que sejam estimulados.
Acredita-se que um elemento essencial na formação do professor é que este tenha em mente que sua relação com o aluno é fundamental para o desempenho intelectual de ambos, pois, o modo como esse relacionamento se dá vai dimensionar e direcionar a questão da aprendizagem.
Nessa perspectiva, pode-se dizer que o profissional preparado para atuar em sala de aula, caracteriza-se como um docente capaz de elaborar sua própria metodologia e, principalmente, se questionar quanto a sua postura em sala de aula.
Afinal, segundo o educador Paulo Freire (2006) é através do fazer pensante e questionador que o professor estabelece um compromisso com o que faz. O autor, ainda mostra as fortes razões da pesquisa e do ensinar:
Ensino porque busco, porque indaguei, porque indago e me indago. Pesquiso para constatar, constatando, intervenho, intervindo educo e me educo. Pesquiso para conhecer o que ainda não conheço e comunicar ou anunciar a novidade (FREIRE, 2006, p. 29).
Evidencia-se na referida fala a preocupação com uma atividade docente pautada na mediação do professor com o conhecimento e com o aluno, atendendo às necessidades deste, como grande relevância no processo metodológico do professor, uma vez que este consegue passar seu exemplo de postura em sala de aula.
Na visão de Freire (2006, p. 96):
O bom professor é o que consegue, enquanto fala, trazer o aluno até a intimidade do movimento do seu pensamento. Sua aula é assim um desafio e não uma cantiga de ninar. Seus alunos cansam, não dormem. Cansam porque acompanham as idas e vindas de seu pensamento, surpreendem suas pausas, suas dúvidas, suas incertezas.
Para tanto o professor deve ser consciente de seu papel e saber que sua tarefa é orientar o aluno em seu aprendizado, tornando-o mais crítico, buscando sempre êxito por meio de suas práticas pedagógicas, averiguando e buscando esclarecer os obstáculos que em muitos casos acontecem no processo da aprendizagem, nesse sentido, o educador deve adotar uma ação mais ampla para identificar as dificuldades de seus alunos.
Sabe-se que na sociedade contemporânea, se vive em meio a grandes transformações, exigências cada vez mais voltadas para competitividade de mercado, profissionais qualificados e valorização de títulos acadêmicos, principalmente no âmbito educacional. Tão importante quanto os títulos, é a formação de profissionais voltados para as exigências atuais, preocupados com sua função social e que buscam continuamente aprender para ensinar.
Entende-se que um método educativo, no qual aconteça a interação, o diálogo entre outros, contribuem para a superação das deficiências da aprendizagem do aluno.
Na opinião de Freire (2005, p. 91):
[...], o diálogo é uma exigência existencial. E, se ele é o encontro em que se solidarizam o refletir e o agir de seus sujeitos endereçados ao mundo a ser transformado e humanizado, não pode reduzir-se a um ato de depositar ideias de um sujeito no outro, nem tampouco tornar-se simples troca de ideias a serem consumidas pelos permutantes.
Pois, sabe-se que o diálogo utilizado pelo professor em sala de aula, potencializa o aprendizado amplo, isto é, de conteúdo moral, ético e estético e outros que inevitavelmente, permeiam aos alunos como temas transversais ou como assunto que transcendam os currículos.
Para Freire (2006, p. 154):
A razão ética da abertura, seu fundamento político, sua referência pedagógica; a boniteza que há nela como viabilidade do diálogo. A experiência da abertura como experiência fundante do ser inacabado. Seria impossível saber-se inacabado e não se abrir ao mundo e aos outros à procura de explicação, de respostas a múltiplas perguntas. O fechamento ao mundo e aos outros se torna transgressão ao impulso natural da incompletude. O sujeito que se abre ao mundo e aos outros inaugura com seu gesto a relação dialógica em que se confirma como inquietação e curiosidade, como inconclusão em permanente movimento na História.
Para tanto, acredita-se que a partir da sua formação que o profissional da educação conscientiza-se da necessidade de aperfeiçoar seus conhecimentos. Pois, “o mundo social e humano, não existiria como tal se não fosse um mundo de comunicabilidade fora do qual é impossível dar-se o conhecimento humano” (FREIRE, 2006, p. 65). Tendo em vista, o professor ser eminentemente um profissional do saber e, como tal, um dos requisitos da sua profissão, é a abertura para os diálogos e novos conhecimentos.
Nesse sentido, cabe ao professor, além de ensinar, dialogar e observar como o aluno se comporta. Sendo que tal mudança de comportamento pode ser oriunda de diversos fatores, dentre eles pode-se destacar, problemas familiares, o não entrosamento com os colegas, perda de algo ou alguém querido entre outros.
Observa-se que, nas teorias Freidianas, embora de forma oculta, a escola pode contribuir com o mau desempenho escolar de seus alunos como, por exemplo, quando se agrupa em uma única sala de aula vários alunos repetentes e o professor usa a mesma metodologia de ensino para todos, o que não poderia acontecer, pois, cada criança é possuidora de habilidades diferenciadas e o compasso de aprendizagem não é igual para todos, dessa forma o educador deve, também diferenciar sua prática de ensino.
Na concepção de Freire (2002, p.118):
Não há conhecimento se da sua prática não surge a ação consciente dos oprimidos, enquanto classe social explorada, na luta pela sua libertação. Por outro lado, ninguém conscientiza ninguém. O educador e o povo conscientizam-se através do movimento dialético entre a reflexão crítica sobre a ação interior e a ação subsequente no processo daquela luta.
Assim entende-se que são muitos os elementos que contribuem para uma prática reflexiva, pois esta não se dá de forma isolada, é inerente a atividade docente, uma vez que se apoia em estudos de grupo, avaliação pedagógica, enfim, teorias que não se afastam da prática. Trata-se de uma construção árdua, tendo em vista as dificuldades da profissão, porém possível de ser executada pelo professor que pensa sobre o que faz, busca o autoconhecimento e enxerga sua conectividade com o mundo.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Após algumas leituras nos legados de Paulo Freire, constatou-se que a formação do educador trata de um processo em que se constroem novos conceitos para desempenhas em sala de aula. De modo o professor deve sempre buscar dar um novo significado à sua profissão, partindo do princípio de que sua função é uma luta que precisa ser enfrentada com base em novos conhecimentos, uma vez que no seu trabalho deve propicia habilidades, para saber ouvir, compartilhar ideias, ajudar e ser ajudado e comprometer-se com sua classe estudantil.
Para Paulo Freire a formação de professores precisa e necessita atingir uma melhoria na qualidade do ensino, pautada na função social que lhe é inerente, tendo em vista a construção de uma docência que reflita na vida das pessoas, transformando-as e encontrando soluções, tanto no âmbito das academias, como na educação de ensino básico. Tendo em vista que cada educador é responsável pelos conhecimentos que adquire e transmite em prol de aperfeiçoar a sua profissão, bem como de todos que fazem parte do processo educacional. Fazendo de sua profissão o elemento fundamental para a formação de cidadãos críticos e conscientes de suas funções perante a sociedade contemporânea.
REFERENCIAS
FREIRE, Paulo. Ação cultural para a liberdade e outros escritos. 10 ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2002.
_______. Professora sim, tia não: cartas a quem ousa ensinar. 12 ed. São Paulo: Olha D´água, 2002.
_______. Pedagogia do oprimido. 46 ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2005
_______. A educação na cidade. São Paulo Cortez, 62 ed. 2005.
_______. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. 33 ed. São Paulo: Paz e Terra; 2006.
_______. Extensão ou comunicação? 13 ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2006.
_______. Educação como prática da liberdade. 30 ed. São Paulo: Paz e Terra, 2007.