A INDIVIDUALIZAÇÃO NO PROCESSO DOS TRABALHOS INTERDISCIPLINARES
Cleidilene Gomes dos Reis
Mestranda pela Anne Sullivan University. Letrada, Pedagoga, Professora de Educação Infantil do Município de Araripina-PE. E-mail: cleydylenepsicopedagoga@hotmail.com
Raimunda Tânia Pinheiro de Oliveira
Bióloga- Mestra pela Universidade Federal do Ceará. Vivência no ensino da Biologia Geral, com ênfase em Microbiologia, Administração Educacional e Métodos e Técnicas de Ensino.
E-mail: t.biologa@gmail.com
Resumo
A individualização não é sinônimo de interdisciplinaridade no campo escolar. O seguinte artigo tem por escopo apresentar uma reflexão sobre os desafios enfrentados no cotidiano escolar, analisando a importância da interdisciplinaridade como uma ponte para a democratização dos trabalhos e atendimento das disciplinas entre si, ou entre as áreas. Esse estudo foi realizado por meio de pesquisas bibliográficas e abordagem qualitativa centrada na idéia de que os trabalhos individualizados podem causar dificuldades diante dasavaliações, sendo que o assunto em trabalho é pautado através de estudos teóricos que ajuda a desenvolver novos rumos aos conhecimentos que desenvolve a formação de todo o conjunto envolvido, no qual pode contribuir para uma aprendizagem mais significativa a respeito da coletividade e integração das atividades realizadas no campo escolar. Portanto o desenvolvimento e a constituição do sujeito como alguém engajado terá praticas sociais mais compartilhadas com a realidade.
Palavras-Chave: Interdisciplinaridade. Integração. Campo Escolar
Introdução
Ao falarmos dos problemas contemporâneos, percebemos que inúmeros acontecimentos vêm ocorrendo a todo o momento, no qual fazem referências as políticas e aos desenvolvimentos de natureza educativa que existe no mundo moderno e a maioria dos elementos são influenciados pelas mudanças e iniciativas causadas pelo modo contemporâneos e as inovações em educação, ciência e tecnologias.
As escolas estão cheias de profissionais que buscam por interesses próprios, ministram suas aulas, sem perceber qual o verdadeiro conteúdo que o aluno esta necessitando aprender, se individualizando dentro do campo escolar, as clientelas que existem hoje nas nossas escolas e que vivem nesse mundo moderno precisam de muito mais que conteúdo, eles precisam descobrir tudo sobre o universo que lhe cerca, desde pessoal até o social, e o profissional tem a capacidade de oferecer isso e muito mais.
A educação tem progredido, mas junto com essa progressão veio os problemas que reflete alguns fracassos, e como desafio tem a individualização dos trabalhos escolares. A individualização, conforme descrita por (CARL JUNG1987) psiquiatra e psicoterapeuta suíço, é um processo através do qual o ser humano evolui de um estado infantil de identificação para um estado de maior diferenciação, o que implica uma ampliação da consciência, e com isso nos remetemos a um regresso nos trabalhos interdisciplinares no campo escolar.
Para um trabalho bem desempenhado é necessário uma boa equipe, que trabalhem em conjunto e em um processo de adesão aos trabalhos interdisciplinares e a formação da educação, que parte da interdisciplinaridade e que precisa ser concebida sob bases especificas, apoiadas por trabalhos desenvolvidos na área, trabalhos esses que contribui desde das finalidades particulares da formação profissional até a atuação do professor.
A individualização nos trabalhos escolares
A educação não pode ser individualizada, pois segundo Paulo Freire (1986) “a educação sozinha não transforma a sociedade, sem ela tampouco a sociedade muda, e esta reflexão nos remete a compreender que a educação é um conjunto de ações que produz uma sociedade melhor”.
O processo de individualização reflete que a sociedade possui mascaras social para recuperar a sua subjetividade, e a educação permite desenvolver sujeitos conscientes que sejam capazes de produzir condições de vidas criativas e autônomas capazes de fazer coisas novas ou repetir o que outras gerações já fizeram.
Segundo Carl Jung (1987, p.49) que trabalhou sobre esse tema, fala sobre a individuação e individualidades.
"Individualismo significa acentuar e dar ênfase deliberadamente a supostas peculiaridades, em oposição a considerações. A individuação, no entanto, a realização melhor e mais completa das qualidades coletivas e é o fator determinante de um melhor rendimento social".
Assim, entendemos que a individualização permite o homem se integrar e agir com autonomia. As mudanças sociais permitiu que o homem vivesse como algo isolado e fechado em si mesmo, enclausurado em um pensamento encapsulado. Segundo o ponto de vista de TAYLOR (2000, p.146) “se você vive em uma sociedade e estuda seu funcionamento, tem de levar em conta todo o tipo de coisas que não são simplesmente pessoas ou concatenações de pessoas: papéis, cargos, status, regras, leis e costumes”. A sociedade é organizada a partir de cada individuo e constitui vários aspectos como base para uma estabilidade ou desestabilidades, pois sabemos que a sociedade precisa de muito mais para se compuser.
A individualização tem atrapalhado no desenvolvimento educacional, vários profissionais se isolam por trás dos conteúdos desintegrando sua disciplina da interdisciplinaridade, pois segundo FAZENDA (2000, p. 9) “a interação é condição de efetivação da interdisciplinaridade”. Ao invés desses profissionais ocuparem apenas um espaço, deveria refletir sobre a extensão de conteúdos, levando os indivíduos a questionar e obter um pensamento critico social, pois a integração de conhecimento visa novos conhecimentos, novas buscas e uma transformação da própria realidade.
É visível também a individualidade dos trabalhos realizados por os alunos, mesmo que sejam em grupos cada um faz seu trabalho sozinho, problema esse que parte por falta de direcionamento adequado aos trabalhos grupais, geralmente o assunto é jogado e o aluno produz o trabalho aleatoriamente, porque são poucos os professores que coordenam os grupos, o que ocorre são conversas paralelas, falta de interesse, preguiça, livro fora do assunto e apenas os mais interessados acabam fazendo tudo e os outros recebem as notas, e depois pouco são questionados sobre o aprendizado, e o problema continua juntamente com o individualismo, que enfraquece a sociedade e principalmente no sentido de que as pessoas não são interessadas em questões em que envolvam interesse macro, que dizem respeito a todos os membros. E pensando em questão escolar vale privilegiar uma educação que visa à cidadania global como cita Maria Cândida Moraes:
"Formar seres capazes de conviver, comunicar e dialogar num mundo mais interativo e interdependente utilizando os instrumentos da cultura. Significa preparar o indivíduo para ser contemporâneo de si mesmo, membro de uma cultura planetária e, ao mesmo tempo, comunitária, próxima, que, além de exigir sua instrumentalização técnica para comunicação a longa distância, requer também o desenvolvimento de uma consciência de fraternidade, de solidariedade e a compreensão de que a evolução é individual e, ao mesmo tempo, coletiva. Significa prepará-lo para compreender que, acima do individual, deverá sempre prevalecer o coletivo. Educar para a cidadania global requer a compreensão da multiculturalidade, o reconhecimento da interdependência com o meio 13 ambiente e a criação de espaço para consenso entre os diferentes segmentos da sociedade". (MORAES, 2000, p. 225).
Ter uma educação global ajudará em muitos fatores como, por exemplo, a inter-relação dinâmica entre as diferentes culturas, havendo uma homogeneização, padronização e uniformização das diferentes culturas presente, onde podemos citar esses critérios básicos através do que CANDAU diz.
"Educação intercultural não pode ser reduzida a algumas situações e/ou atividades realizadas em momentos específicos ou por determinadas áreas curriculares, nem focalizar sua atenção exclusivamente em determinados grupos sociais. Trata-se de um enfoque global que deve afetar a cultura escolar e a cultura da escola como um todo, a todos os atores e a todas as 7 dimensões do processo educativo, assim como a cada uma das escolas e ao sistema de ensino como um todo". (CANDAU, 2002, p.99.).
A simples inclusão da pluralidade cultural proposta nos Parâmetros Curriculares, mostra que é fundamental efetivar na pratica essa discussão, pois uma vez incluído nos currículos e nos programas de cada disciplina haverá uma valorização do conhecimento como cita o PCN.
"A temática da Pluralidade Cultural diz respeito ao conhecimento e à valorização das características étnicas e culturais dos diferentes grupos sociais que convivem no território nacional, às desigualdades socioeconômicas e à crítica às relações sociais discriminatórias e excludentes que permeiam a sociedade brasileira, oferecendo ao aluno a possibilidade de conhecer o Brasil como um país complexo, multifacetado e algumas vezes paradoxal". (PCN, op.cit., p.16)
As escolas devem trabalhar voltadas para a construção de novos sujeitos sociais, deixando de lado a individualização, pois a escola tem o poder e formar indivíduos com capacidades de tecer relações humanas e promover um processo dinâmico e sistemático de transformação social.
O Campo Escolar dentro da Interdisciplinaridade
A interdisciplinaridade interage comumente com outras áreas especificas e tem o propósito de promover a interação entre o aluno, professor e nas áreas da ciência com outras ciências, é um elo entre o atendimento das disciplinas, onde são ampliadas de formas dinâmicas e temáticas inovadoras para a ampliação da aprendizagem.
"A interdisciplinaridade não dilui as disciplinas, ao contrário, mantém sua individualidade. Mas integra as disciplinas a partir da compreensão das múltiplas causas ou fatores que intervêm sobre a realidade e trabalha todas as linguagens necessárias para a constituição de conhecimentos, comunicação e negociação de significados e registro sistemático dos resultados". BRASIL (1999, p. 89).
O trabalho interdisciplinar precisa surgir da necessidade da escola, é necessária a união do campo escolar para transpor algo inovador, abrir sabedorias, resgatar possibilidades e ultrapassar o pensamento fragmentado como diz o PCNs.
"(...) É importante enfatizar que a interdisciplinaridade supõe um eixo integrador, que pode ser o objeto de conhecimento, um projeto de investigação, um plano de intervenção. Nesse sentido ela deve partir da necessidade sentida pelas escolas, professores e alunos de explicar, compreender, intervir, mudar, prever, algo que desafia uma disciplina isolada e atrai a atenção de mais de um olhar, talvez vários. Explicação, compreensão, intervenção são processos que requerem um conhecimento que vai além da descrição da realidade mobiliza competências cognitivas para deduzir, tirar inferências ou fazer previsões a partir do fato observado (Parâmetros Curriculares Nacionais – Ensino Médio". (Brasília: MEC, 2002, p. 88 e 89)
No mundo atual, interativo, informativo e moderno em que vivemos o professor precisa interagir com os alunos proporcionando uma aprendizagem agradável e desejável.
Como na escola o aprendizado é um resultado desejável, é o próprio objetivo do processo escolar, a intervenção é um processo pedagógico privilegiado. O professor tem o papel explícito de intervir e provocar nos alunos avanços que não correriam espontaneamente. (FRISON, 2000 p. 129)
Todo ambiente escolar é fértil, não só para o ensino aprendizagem, mas pelo espaço de interação que leva a aprendizagem mutua, pois o professor tem nas mãos a possibilidade de elaborar objetivos e procedimento que tenham por meta melhorar e promover a competência social e as relações interpessoais dos alunos.
"Assim, práticas formativas referem-se a maneiras bem identificáveis de ensinar, mas também à qualidade das relações entre professor e aluno, ao exemplo profissional, à autoridade intelectual do professor formador, entre muitas outras ocorrências que os alunos podem avaliar como importante para o aprendizado do ser professor". (GUIMARÃES, 2004, p. 56)
A aprendizagem é continua e tudo que se é transmitido na sala de aula são inevitavelmente transmitidos aos seus pais e ao ambiente familiar, principalmente se for fatores que estejam presentes no dia a dia, essa aprendizagem se torna uma mudança de comportamento, resultando num conhecimento prazeroso e positivo.
De acordo com a nova ênfase educacional, centrada na aprendizagem, o professor é coautor do processo de aprendizagem dos alunos. Nesse enfoque centrado na aprendizagem, o conhecimento é construído e reconstruído continuamente.
"A interdisciplinaridade, portanto, não precisa necessariamente de um projeto científico. Pode ser incorporada no plano de trabalho do professor de modo contínuo; pode ser realizada por um professor que atua em uma só disciplina ou por aquele que dá mais uma, dentro da mesma área ou não; pode, finalmente, ser objeto de um projeto, com um planejamento específico, envolvendo dois ou mais professores, com tempos e espaços próprios". (Referenciais Curriculares do Estado do Rio Grande do Sul: Ciências da Natureza e suas Tecnologias/ Secretaria de Estado da Educação-Brasília, 2006, p. 125)
Portanto a interdisciplinaridade é uma proposta que visa superar o tratamento do conhecimento escolar, que se interligam e se relacionam com a realidade social, baste ter um dialogo para melhorar o atendimento escolar de acordo com a realidade da comunidade em que o aluno esta inserido.
A Interdisciplinarideade e Transversalidade
A interdisciplinaridade surgiu no final do século XIX, no momento em que a ciência foi divida em varias disciplinas, pois essa era a necessidade de nomear essa fragmentação e com o tempo a mesma foi reelaborada para abranger os conhecimentos científicos. Embora ainda não se tenha uma teoria única da interdisciplinaridade, é importante explicitar as fases, as pesquisas e as contradições desse movimento. Esse movimento pode ser dividido em três décadas: 1970, 1980 e 1990.
Segundo Fazenda (1999), podem-se dividir os primeiros estudos das questões da interdisciplinaridade em:
1970- construção epistemológica da interdisciplinaridade, em busca de uma explicitação filosófica, procurava a definição de interdisciplinaridade.
1980- explicitação das contradições epistemológicas decorrentes dessa construção, em busca de uma diretriz sociológica, tentar explicitar um método para a interdisciplinaridade.
1990- construir uma nova epistemologia, a própria da interdisciplinaridade, em busca de um projeto antropológico, construção de uma teoria da interdisciplinaridade.
Para entendermos melhor o termo de interdisciplinaridade, devemos partir da noção de disciplina.
"A organização disciplinar foi instituída no século XIX, novamente com a formação das universidades modernas; desenvolveu-se, depois, no século XX, com o impulso dado à pesquisa científica; isto significa que as disciplinas têm uma história: nascimento, institucionalização, evolução, esgotamento, etc; essa história está inscrita na da Universidade, que, por sua vez, está inscrita na história da sociedade". (MORIN, 2002, p. 105 )
Esse trabalho interdisciplinar garante a construção de novos conhecimentos que deve ser desenvolvido com uma metodologia pautada na integração de nova aprendizagem e na concepção unitária de conhecimento, pois o caráter disciplinar tradicional dificulta a aprendizagem do aluno, não estimulando a inteligência, a conexão dos fatos, conceitos e o pensamento criticam sobre o conteúdo estudado. “O parcelamento e a compartimentação dos saberes impedem apreender o que está tecido junto”. MORIN (2000, p.45)
De acordo com o pensamento de MORIN (2000), as disciplinas isoladas, só servirão para isolar os objetos do seu meio e partes de um todo. É preciso romper com as fragmentações entre os saberes, caso contrário os cidadãos seria ineficiente na resolução de problemas existente hoje, essa inadequação impede a contextualização dos saberes, causando a incapacidade de considerar o saber contextualizado e globalizado. Enfatiza MORIN (2000, p. 43): “a inteligência parcelada, compartimentada, mecanicista, disjuntiva e reducionista rompe o complexo do mundo em fragmentos disjuntos, fraciona os problemas, separa o que está unido, torna unidimensional o multidimensional”.
A estrutura das disciplinas e conteúdos não tem nada a ver com o mundo real das pessoas, deixando o aluno desmotivado e acomodado, tornando difícil estruturar uma atitude interdisciplinar.
A sociedade brasileira possui muita diversidade e dentro da interdisciplinaridade deve-se buscar a transversalidade, respeitando o educando através da valorização da sua cultura, já que as diferenças é a base para a constituição do sujeito, enaltecendo o seu processo de ensino aprendizagem e a sua inserção social.
O currículo escolar deve corresponder a questões presente na vida cotidiana, com temática bastante integradaa comunidade e essa integração só é possível por meio da transversalidade.
O MEC tem essa preocupação, por isso já pré-estabeleceu temas transversais e a inclusão de temas relevantes sobre as questões sociais.
Assim, segundo orientação dos PCNs, não se trata de que os professores das diferentes áreas devam "parar" sua programação para trabalhar os temas, mas sim de que explicitem as relações entre ambos e as incluam como conteúdos de sua área, articulando a finalidade do estudo escolar com as questões sociais, possibilitando aos alunos o uso dos conhecimentos escolares em sua vida extraescolar. Não se trata, portanto, de trabalhá-los paralelamente, mas de trazer para os conteúdos e para a metodologia da área a perspectiva dos temas. Segundo o MEC, caberá aos professores mobilizar tais conteúdos em torno de temáticas escolhidas, de forma que as diversas áreas não representem pontos isolados, mas digam respeito aos diversos aspectos que compõem o exercício da cidadania. (MENEZES, 2002)
A transversalidade não é apenas uma tarefa do professor, mas também da gestão escolar que propõe e acompanha o projeto político pedagógico da unidade escolar. Transversalizar as temáticas de acordo com a necessidade e os antigos conteúdos, possibilitará a criação de um novo projeto, repensando as praticas educativas de forma a questionar e garantir a valorização da diversidade.
As Dificuldades para a Implantação da Interdisciplinaridade
São muitos os motivos pelo qual as escolas não aceitam a implementação da interdisciplinaridade, e entre lês pode citar:
1) A HIERARQUIZAÇÃO DO SABER
A escola possui um processo formativo de disciplinas especificas, onde algumas têm mais preferência que outras. Atendendo posições ideológicas, reduzindo a abordagem devido ao tempo, podemos ver que ate os projetos pedagógicos tem prioridade em algumas disciplinas, desfocando a integração e a pluralidade e multiplicidade dos saberes. Por essa perspectiva pode de afirmar que a hierarquia no ensino obstrui o canal de
"[...] ligações de interdependência, de convergência e de complementaridade entre as diferentes matérias escolares que formam o percurso de uma ordem de ensino ministrado, o ensino primário, por exemplo, a fim de permitir que surja do currículo escolar – ou de lhe fornecer – uma estrutura interdisciplinar segundo as orientações integradoras" (FAZENDA, 2008, p.57).
Para que a interdisciplinaridade aconteça é preciso que a escola efetivamente requeira conhecimentos para manter os componentes curriculares, com especificações das disciplinas, para enriquecer a troca de conteúdo entre as matérias. Quanto ao professor espera-se que alcancem um leque de informações, onde poderão ter a oportunidade de ler e registrar diferentes interpretações e concepções.
2) A FRAGMENTAÇÃO DA PRÁTICA NA ESCOLA
Ao analisar historicamente a prática da educação, um aspecto que toma destaque é o seu caráter fragmentário. Sendo que esta fragmentação assume diferentes formas, de acordo com uma classificação exposta por Fazenda (2008):
- a) ocorre afragmentação dos conteúdos nos diversos componentes curriculares, as atividades dos docentes se realizam apenas por acumulação, não há convergência, integração e unidade, o conhecimento é estanque e isolado;
- b) a instituição escolar como um todo, não se integra. O fazer dos professores e as ações técnicas/administrativas, desenvolvidas no interior da escola, pelos diversos sujeitos envolvidos não convergem e se articulam num propósito comum. Tem-se a impressão que todos os segmentos assumem uma determinada autonomia, seguindo seu próprio caminho.
- c) a fragmentação também se manifesta nas instituições, a partir da dificuldade de articular os meios aos fins, de utilizar adequadamente os recursos para o alcance dos objetivos principais;
- d) outra prática bastante comum se estabelece na desarticulação do discurso teórico com a prática real. Ao romper o elo que fora pronunciado, a atuação dos sujeitos fica profundamente comprometida, assim como sua continua reavaliação;
- e) ainda, a fragmentação da escola e comunidade, parece haver dois extremos, universos distintos e autônomos, desenvolvendo-se paralelamente, com interação e comunicação apenas formal e burocrática, sem perceber o quanto, uma está imbricada na outra.
Como proposta de contraposição às diferentes formas de fragmentação na escola, Ivani Fazenda (2008, p. 39), apresenta:
"A superação da fragmentação da prática da escola só se tornará possível se ela se tornar o lugar de um projeto educacional entendido como o conjunto articulado de propostas e planos de ação com finalidades baseadas em valores previamente explicitados e assumidos, ou seja, de propostas e planos fundados numa intencionalidade. Por intencionalidade está se entendendo a força norteadora da organização e do funcionamento da escola provindo dos objetivos preestabelecidos".
3) A FALTA DE DIÁLOGO ENTRE A COMUNIDADE ESCOLAR
A falta de dialogo entre a comunidade escolar e as disciplinas é clara, pois os pais não interagem com a escola para conhecer os tipos de conteúdo ministrados, até mesmo o docente elege apenas o seu conteúdo, e o estudante acaba vendo as disciplinas como uma caixa separada. Diante disso o dialogo entre as disciplinas se torna negativo pelo desafio que uma apresenta a outra, como cita FLICKINGER (2010, P. 51).
"[...] cada uma se vê obrigada a expor sua própria perspectiva ao risco de ser contestada à base de argumentos bem fundamentados. Por tratar-se de uma obrigação mútua, nenhum dos parceiros pode saber, de antemão, qual o resultado ou, por assim dizer, o novo que nasce daí. É este espaço inesperado, não dominado por nenhuma das perspectivas disciplinares, que tanto irrita; pois sua experiência representa ameaça contínua dos pilares disciplinares que definem não apenas a identidade disciplinar, mas garantem, no dia a dia, a legitimidade dos interesses a serem tematizados e cumpridos dentro do horizonte disciplinar do questionamento. A resistência contra esse espaço aberto é forte, pois nada pior para o cientista do que ter de renunciar, forçadamente, a suas certezas básicas".
Percebe se que o dialogo é um processo educativo na prática da interdisciplinaridade, e que precisa do engajamento de todos os sujeitos envolvidos para alcançar os objetivos desejados.
Considerações Finais
Uma educação que permite a individualidade do individuo permanentemente não integra as ações humanas coerente com a realidade da comunidade. O ser humano não existe sozinho, isolado. Sua vida deve ser pautada no desenvolvimento coletivo da comunidade, ou seja, se desenvolver a partir das relações existente um com o outro. O objetivo da educação é ressaltar o relacionamento escola/sociedade em um universo social, abrindo espaço para o reconhecimento da transmissão de conhecimento.
Nota-se que o trabalho individualizado impede um planejamento interdisciplinar e com a interação em totalidade do campo escolar, recuperará o trabalho coletivo, onde todos ganham, porque será um pratica voltada para compreensão do mundo que os cerca, independentemente dos assuntos/temas tratados, o trabalho sempre estará centrado no desenvolvimento e habilidades expressas no decorrer do tempo.
Por isso, a interdisciplinaridade não deve esta centrada na individualização dos trabalhos em geral do campo escolar, precisa complementar o conceito de novos conhecimentos, tendo uma visão de totalidade e complexidade de todos os fatores que estão inseridos na aprendizagem.
Referências
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